Autora: Svetlana Aleksiévitch
Título Original: Last Witnesses
Páginas: 272
Ano: 2018
Editora: Companhia das Letras

A Segunda Guerra Mundial matou quase 13 milhões de crianças e, em 1945, apenas na Bielorrússia, havia cerca de 27 mil delas em orfanatos, resultado da devastação tremenda causada pelo conflito no país. Entre 1978 e 2004, a jornalista Svetlana Aleksiévitch entrevistou uma centena desses sobreviventes e, a partir de seus testemunhos, criou uma narrativa estupenda e brutal de uma das maiores tragédias da história. A leitura dessas memórias não é nada além de devastadora. Diante da experiência dessas crianças se revela uma dimensão pavorosa do que é viver num tempo de terror constante, cercado de morte, fome, desamparo, frio e todo tipo de sofrimento. E o que resta da infância em uma realidade em que nada é poupado aos pequenos? Neste retrato pessoal e inédito sobre essas jovens testemunhas, a autora realizou uma obra-prima literária a partir das próprias vozes de seus protagonistas, que emprestaram suas palavras para construir uma história oral da Segunda Guerra.

Sei que todo mundo já leu algo sobre a guerra. Sobre a primeira ou sobre a segunda. Pode ser que não tenha sido uma traça de livros sobre o assunto como eu, mas com certeza teve que estudar sobre o assunto na escola e deve ter lido materiais sobre o que aconteceu de verdade pelos países envolvidos.

A questão é que eu já li muitos livros sobre o assunto, tanto livros fictícios quanto livros biográficos. Claro que se sabe muito sobre esta parte da história em se falando de segunda guerra. E cada autor fala de um pedaço mostrando um lado ou um país. Tanto que se me perguntarem eu vou saber falar mais da parte em que a Alemanha ataca a partir de seu lado esquerdo para a França do que do lado direito para a Rússia. 

"Depois não lembro de mais nada: quem nos salvou do campo de concentração e como? Lá, tiravam sangue das crianças para os soldados alemães feridos. Todas as crianças morriam. Como eu e meu irmãos fomos parar no orfanato? E como no fim da guerra recebemos a notificação de que nosso pais haviam morrido? Algo aconteceu com minha memória. Não me lembro dos rostos, não me lembro das palavras..." P. 64

Sempre acho que devia ter deixado longe de mim muita parte desta história. Já é muito cruel saber o que o nazismo fez com os judeus, negros e ciganos. Mas quando surgiu o livro da autora Svetlana em uma forma de biografia e relatos da guerra eu acreditava que estava preparada para ler os mesmos. Bem, foi um grande engano da minha parte. Se eu considerava que o ser humano era cruel, eu não esperava que ele poderia ser mais cruel ainda.


Quando eu lia que a guerra havia começado pensava que as coisas não eram tão terríveis assim, mas neste livro desde o primeiro dia os relatos mostram que tudo foi muito terrível. Não havia nada que se mexesse que não morria. Fico aqui pensando como os alemães, claro que não eram todos, mas como aqueles que sentiam realmente raiva dos outros povos podiam ter a sensação de orgulho em matar homens, mulheres, crianças, bebês de uma forma tão cruel.

Se você tem algum tipo de sensibilidade este livro pode não ser a leitura ideal. É um conjunto de relatos verdadeiros de sobreviventes da guerra, mesmo que a sobrevivência tenha deixado somente o corpo, já que a mente e a alma tenham ficado completamente destruídos pós-guerra. E veja bem, são crianças, bebês e pré adolescentes que viram a pior faceta de todas.

" Queimaram nossa aldeia em 1943... Nesse dia estávamos desenterrando batatas. Vassíli, o vizinho, havia estado na Primeira Guerra Mundial e sabia um pouco de alemão; ele disse: "Eu vou lá e peço aos alemães que não queimem a aldeia. Tem criança aqui." Foi lá, e ele mesmo foi queimado. Puseram fogo na escola. Todos os livros. Queimaram nossas hortas. Os jardins." P. 79
Este livro é voltado para a para da União Soviética. Para como os alemães sitiaram cidades específicas como Stalingrado por mais de novecentos dias, matando parte de toda a população. Mostra também o ataque às aldeias e como matavam sem nem sequer saberem os nomes. Eu imagino que era por pura diversão.

O que mais me dói em todos estes relatos é como as pessoas sofriam com a fome, com o frio. Crianças que lutavam diariamente e que comiam qualquer coisa misturada com terra. Pedaços de papel de parede com água. Você se imagina em uma situação assim? Muitas vezes acho que isto desperta a pior parte do ser humano e talvez também a melhor de algumas.


Este livro serve como um exemplo de vida. Quando se pensa em problemas e sentimos que os nossos são grandes, e logicamente cada dor é uma dor e não podemos mensurar, temos que agradecer por não estarmos em meio a uma guerra. Mas é mais importante ainda lembrar que nunca estamos livres e é um livro de reflexão. Não somente pela dor mas pelo amor que também se mostra presente nos relatos.

"Depois do cerco... Sei que o ser humano pode comer de tudo. As pessoas comiam até terra... Nas feiras vendiam as terras dos depósitos de alimentos queimados e destruídos de Badavéiski, e davam valor particular à terra na qual havia sido derramado óleo de girassol, ou à terra misturada com doce de fruta queimado." P. 219

Este livro ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 2015 e foi merecido. Quando acabou eu só queria ler mais e abraçar cada uma das pessoas que deram seu depoimento e agradecer por terem sobrevivido, pois eu acredito que jamais teria conseguido.




28 Comentários

  1. Eu já li muitos livros sobre a guerra mundial, tanto primeira quanto a segunda, muitos mesmos e eu sempre penso que a próxima leitura será mais fácil, afinal de contas, tudo que eu li já foi mais que absurdo, então, não pode piorar, mas a gente se engana né? A crueldade humana é de um nível inimaginável. Sempre que leio algo novo, acabo ficando devastada ao final da leitura. O tema por si só já é comovente, sofrido, quando lemos os detalhes da maldade do ser humano,o coração até sangra de dor.
    Este livro, assim como a autora, eu ainda não conhecia, vou por na lista de desejados, embora não pretenda ler por agora, ainda tô me recuperando de algumas leituras pesadas de 2018.

    www.fuxicoserabiscos.com.br


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    1. Exatamente, a gente pensa que já leu de tudo e no fim descobre que tem sempre mais e mais e que acaba destruindo mais o amor que pensa ter sobre o ser humano.

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  2. Oiii,

    Eu sempre tenho muita curiosidade em ler coisas da segunda guerra, porque é sempre um grande lembrete de como o ser humano pode ser perverso e cruel, e como a empatia e a compaixão podem desaparecer facilmente, mas também nunca vi nada muito fora da Alemanha Nazista em si e achei bem interessante o livro tratar de um local que foi tão afetado quanto, mas que não é tão representado assim. Mas infelizmente acho que não tenho escritura emocional para lidar com um livro deste, com histórias tão cruas e a realidade exposta de uma forma que fica impossível não sofrermos, ainda assim acho que é uma dica riquíssima e que se um dia eu tiver estrutura com toda a certeza irei ler.

    Beijinhos...
    http://www.paraisoliterario.com

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    1. Precisa ter coração forte mesmo. Os relatos são bem intensos, já que tudo foi bem realista.

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  3. não sabia que tinha ganhado o prêmio nobel! é um livro muito importante, que trabalha nossa empatia. não tenho lido muitos livros sobre a guerra, mas fiquei curiosa pra ler esse.
    ótima resenha!

    Virando Amor

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  4. Isto. Acho que parte disto é justamente para as pessoas saberem o que causa toda esta questão das guerras.

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  5. Oi Greice, tudo bem ?
    Eu acho que enredos sobre a Guerra, são muito densos. Eu cresci ouvindo a minah avó que era Lituânia, contando do terror que foi, até a sua vinda fugida para o Brasil. Então é um enredo que não tenho tanto afinco em descobrir.
    Acho legal em contra partida quando falamos sobre empatia, principalmente por ter conseguido um Nobel, é algo realmente a se valorizar.
    Parabéns pela leitura e pela resenha.
    Beijos

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    1. Então você sabe mais de perto ainda. Imagina a dor que deve ser ter vivido a experiência.

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  6. o titulo é bem chamativo confesso porem a historia não entra no meu perfil literario mais uma boa dica para quem gosta desse genero

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  7. Li esse livro e fiquei perplexa com essa nova faceta da guerra que a autora nos apresenta através dos relatos destas crianças, principalmente os de um garoto de oito anos que disse que tiravam as crianças das mães e jogavam no fogo ou em poços. É de cortar o coração.
    Recentemente comecei a ler Vozes de Tchernóbil e eu recomendo, mas tem que preparar o coração, é uma leitura atormentadora.

    Abraços.

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    1. Simmmmmmm! Como se fossem lixo! Como se não valessem nada! Terrível demais, guria.

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  8. Olá Greice!

    Li muitos livros sobre a segundo guerra, e até estou terminando Anne Frank, não sabia da existência dessa obra, gostei muito da sua resenha e o livro me interessou bastante, irei amar ler e compartilhar com outras pessoas. obrigada pela diga.

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  9. Olá!
    Eu não sou uma leitura assídua desse assunto, acho que realmente algumas partes são bem duras de serem lidas e compreendidas, mas achei essa perspectiva bem interessante e intrigante.
    Parece ser um daqueles livros que nos tira da zona de conforto e nos põe pra refletir um bocado.
    Adorei suas considerações.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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    1. Acho que o ser humano é capaz de coisas horríveis. Pela sua própia natureza.

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  10. Oi, Greice.
    Apesar de gostar muito de livros sobre o tema, não sei se estou preparada para ler relatos tão fortes assim. Imagino que o livro seja do tipo que mexe muito com a gente, então prefiro deixar para uma outra hora em que eu não estiver tão sentimental... Senão não aguento!
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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    1. Vou ser sincera. Tem que ter preparo para ler este livro. Teve relatos que eu precisei parar de ler, de tão chocada e triste que fiquei.

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  11. Apesar de ser uma leitura mais pesada e intensa, confesso que sempre me interesso por histórias da segunda guerra. Algumas me deixam mais tristes que outras, mas todas me proporcionam conhecimento e reflexão.

    Este livro eu ainda não conhecia, mas agora sinto que preciso lê-lo logo.

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    1. Exato, é pela questão da reflexão e do conhecimento que isso vale muito a pena!

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  12. Oi Greice!
    Já li vários livros que trazem as mais variadas guerras, incluindo as que você citou e ainda assim não deixo de acha-los interessantes e os pontos de vistas diferentes de cada autor.
    Ainda não conhecia o livro desta autora que contém esse relatos que parecem ser bem fortes. É o tipo de livro que mexe bastante com a gente e realmente traz essas reflexões sobre dor e perda.
    Sempre fica aquela vontade de voltar no tempo e evitar que tudo aquilo acontecesse, que ninguém passasse por aquilo.
    Abraços

    FLeituras

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  13. Só a sua resenha já me deixou com os olhos cheios de lágrimas. Já li vários livros de História sobre a segunda guerra mundial e também li muitos livros de ficção. Mas sempre fico chocada. Sempre sinto o horror, sabe? E me angustia demais. Eu odeio guerras. E os senhores das guerras, aqueles que sempre lucram muito quando guerras explodem pelo mundo, como ocorre na Síria por exemplo. E um dos meus maiores medos é vir a estourar uma terceira guerra mundial um dia. Isso me enche de pânico.

    Lendo sua resenha eu lembrei de uma série chamada O Cavaleiro de Bronze, que também aborda o cerco que ocorreu na Rússia, mas se não me engano trata do cerco a Leningrado. Apesar de ser ficção a autora contou com relatos de seus avós, pelo que lembro, que presenciaram tanto a primeira quanto a segunda guerra. Então, o livro contém muitas cenas fortes, como das pessoas morrendo de fome e frio. Comendo papel de parede, raspando a parede com os dedos até sangrar para poder comer o papel. E era algo tóxico, que ajudava a matá-las. O livro tem cenas horríveis e eu fiquei destroçada ao lê-lo.

    Não sei se suportaria ler As últimas testemunhas. Acho que ficaria muito mal, ainda que essas pessoas sejam sobreviventes. Pensar que elas de fato viveram tudo isso... não dá. É muito forte.

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  14. Eu definitivamente evito livros com a temática da guerra justamente por conta dessa questão da crueldade do ser humano! Eu estou bem longe de estar preparada pra me deparar com esses relatos e fico abismada com o quão horrível eram as situações! Apesar de saber que é uma fonte de conhecimento enorme, não é pra mim esse tipo de obra, mas admiro muito quem o faz! Fico só imaginando os horrores escritos nas páginas, tomara que essas coisas um dia restem vivas apenas nas páginas dos livros! Tenhamos esperança!

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  15. Ola!

    Que resenha intensa! Confesso para ti que nao conhecia o livro, porem, ele envolve aparentemente tudo aquilo que eu nao tenho coração para ler! Adorei sua resenha e as suas observações, mas como disse, nao tenho coração forte para ler sobre a guerra

    beijos

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  16. Oi, tudo bem?
    Eu confesso que, apesar de gostar muito de livros que são ambientado em algum período histórico importante ou que tragam relatos sobre esses períodos, ando fugindo de obras ambientadas na II Guerra Mundial. São sempre leituras dolorosas, que mexem muito comigo e me deixam muito mal. Por esse motivo, tenho certeza que este é um livro que eu com certeza não leria. Não consigo imaginar toda a crueldade e sofrimento que foram relatados, e acredito que seja uma leitura muito intensa e dolorosa. E o pior é pensar que esse tipo de crueldade não ficou para traz, ainda há muitas atrocidades sendo cometidas no mundo.
    Enfim, vou passar a dica desta vez, mas adorei conferir a sua resenha e fico feliz que você tenha tirado reflexões dessa leitura.
    Beijos!

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  17. Oi, Greice!
    Morro de curiosidade para ler os livros dessa autora. Todos me chamam a atenção, pois assim como você, o tema da Segunda Guerra Mundial me desperta interesse e comoção. Certa vez li um mangá que trazia uma criança sobrevivente de guerra como protagonista, mas imagino que em um livro isso seja descrito com mais detalhes, então deve causar realmente um grande desconforto. Amei sua resenha, me despertou ainda mais vontade de ler o livro. Beijos!

    Jéssica Martins
    castelodoimaginario.blogspot.com

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  18. Faz um tempão que não apareço aqui e que bom voltar e perceber que você continua mais que profissional nas suas criticas. Eu já vi comentários bem positivos sobre este livro e o que mais me chama a atenção é o cenário da União Soviética. Estou bem empolgada para ler.
    Beijos

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  19. Olá Greici!!!
    Eu leio muito pouco sobre esse período principalmente porque depois fico um tempão longe de leituras até me achar de novo.
    Mas li cada linha e descrição sua, além dos quotes e o livro já está indo parar na lista de livros que quero ler.
    Adorei a resenha e acho que você deve mesmo uma especialista em livros nesse período rsrsrs

    lereliterario.blogspot.com

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  20. Olá, tudo bem Greice?

    Eu gosto muito de livros sobre história, livros que retratem períodos históricos nefastos da humanidade como a Segunda Guerra Mundial e esse livro é uma boa pedida, é um livro espetacular e rico em informações. Gostei da sua resenha, ficou muito boa!
    Abraço!

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  21. Comecei a ler outro livro da autora, mas não cheguei a finalizar pois os relatos são muito fortes. Admiro demais essa autora, e apesar de nos trazer um mal estar diante da maneira como tudo e descrito, acho bem necessário, pois ela da voz para aqueles que nunca puderam falar de suas vivências.

    Beijos, Gabi
    Reino da Loucura | Instagram

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